Uma morte é sempre um acontecimento marcante na vida de qualquer pessoa. O mais engraçado é que todos nós sabemos que um dia, morreremos; é inevitável, faz parte do processo da vida. Por isso mesmo, a morte deveria ser encarada com mais naturalidade, já que ela pode acontecer a qualquer momento, para cada um daqueles que estão simplesmente respirando.
Deixando de lado crenças, religiões e ideologias, o fato é que o advento da morte é raramente tratado ou discutido como algo comum; Isso não ocorre por acaso: na passagem pela vida é impossível não deixar marcas, lembranças ou ensinamentos àqueles com que se convive, ao menos aos mais próximos. E, essa ruptura, esse desligamento é, no mínimo, difícil de ser enfrentado.
Em se tratando de pessoas públicas, sem dúvida, essa intensidade do convívio fica ainda mais complicada de ser apagada ou esquecida, porque faz parte de uma memória coletiva.
É o caso do historiador e professor Waldir Rueda. Ainda que não fizesse parte do convívio direto de milhares de santistas e moradores da região, sua atuação constante nos veículos de comunicação o torna, sem dúvida, uma figura participante da vida dos munícipes da região, que viam nele um incansável lutador pelo resgate e preservação da história do litoral paulista.
Nascido em São Paulo, em 18 de dezembro de 1966, Rueda era professor da rede estadual de ensino e autor do livro Braz Cubas, homenagem a uma vida, lançado em 2008.
Apesar de paulistano, foi na Baixada Santista que morou praticamente toda a vida. Mudou-se para Praia Grande ainda criança e ainda jovem começou a se notabilizar pela dedicação à causa histórica. Aos 20 anos, já era membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente.
A vida acadêmica, porém, veio tardiamente - em meados dos anos 2000, quando ingressou na Faculdade de História da Universidade Católica de Santos. Foi lá que percebeu que tinha grande vocação para a pesquisa científica e, partir daí, deu início a vários processos de tombamento de bens móveis e imóveis, que tramitam no Condepasa.
Foi de sua iniciativa a Lei Complementar Municipal nº 496, de 21/05/2004, que determina que sejam fotografados, antes de serem demolidos, os imóveis com mais de 50 anos.
Foi, ainda, curador de fatp, de 1989 a 1992, de um fóssil da ossada da cabeça de uma baleia, encontrada nas costas do morro do Itararé, em São Vicente. Atento à preservação de Monumentos Públicos e de Patrimônios pertencentes à História de Santos, esteve sempre indicando ao Ministério Público problemas neles ocorrentes e dando sugestões tais bens sejam preservados e melhorados.
Recentemente, ele estava produzindo uma segunda obra literária, dessa vez sobre a História dos Bondes de Santos, e atuando como colaborador da Revista Almanaque de Santos, do Instituto Histórico e Geográfico de Santos.
É sempre importante para a sociedade contar com a presença de pessoas combativas que fazem uso de seu profundo conhecimento proficiente, sem condição subalterna a quem quer que seja, para defender com bravura o patrimônio histórico de nossa região. Isso significa dizer que nenhum interesse privado ou mesmo estatal, nenhum poder tem legitimidade para desrespeitar ou ferir aquilo que é a essência de uma cidade. Assim pensava e agia Rueda.
Esse é, sem dúvida, um de seus maiores ensinamentos. Reflete, também, a visão de Rueda, que dos pilares de sua grandeza, construía com a cultura histórica a integridade e a dignidade de todos nós santistas.
Agora, com sua perda, nos resta exercer diariamente aquilo que ele nos deixou ao longo de cada uma das batalhas travadas por ele: devemos lutar sem desânimo por aquilo que acreditamos, independente de interesses políticos ou econômicos.
A perda de Waldir Rueda é inestimável para todos. Contudo, é mais incalculável, ainda, para a preservação de nossa memória, de nossa história. Santos certamente perdeu um de seus mais fiéis filhos. Que sua figura e sua luta sejam sem lembrados e referenciados pela nossa geração e pelas gerações de nossos herdeiros. Sem dúvida, a cidade deve muito a Rueda.
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